terça-feira, 3 de março de 2009

"Cão de favela" milionário!?

Oito estatuetas por uma trama que, num primeiro momento, pode soar mera love story. Mas, não. “Quem Quer Ser um Milionário?” é muito mais e o longa justifica-se.
A história de amor é costurada em carne viva pela cativante narrativa da vida do protagonista, Jamal Malik (Dev Patel). A isso inclui-se o cenário de desigualdades sociais em Mumbai, na Índia.
Deve ter sido esse o segredo para tal premiação. Afinal, quanta graça teria um rapaz de país de primeiro mundo se tornar milionário?
A Índia de miséria e sujeira se contrasta com uma explosão de cores, sons e experiências de vida. O sincretismo captado pela equipe do diretor britânico Danny Boyle na favela encanta o espectador e faz com que acompanhemos o filme até a última resposta de Jamal no programa “Quem Quer Ser um Milionário?”. Ou até um pouco além. Mesmo que para chegar no encerramento ridículo onde todo o elenco faz coreografia à la Thriller (Michael Jackson - 1982). Não importa, afinal, estão embalados por uma “trilha sonora original”.
Mas, o lado trágico da dança é nascer pobre, ficar órfão e viver na favela. E isso não é só coisa da Índia. A mesma Mumbai desigual e cruel traz à tona São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto aos olhos do público brasileiro. Inevitável não nos identificar com Jamal e os outros dois personagens principais Salim (Madhur Mittal) e Latika (Freida Pinto).

No primeiro mundo
Em Paris, apesar de ainda pouco distribuído, o filme divide opiniões. Alguns franceses dizem que o longa “não mereceria ter levado tantos prêmios”. Talvez porque desconheçam conviver com esgoto a céu aberto. Em outros casos, parisienses de origem indiana demonstram a sua identificação com o filme no ensaio de alguns aplausos no fim de uma sessão.
Mesmo assim, o mais interessante de “Quem Quer Ser um Milionário?” e da 81ª edição do Oscar foi o reconhecimento do júri norte-americano: melhor filme, diretor, roteiro adaptado, fotografia, mixagem de som, edição, trilha sonora original e canção original. Uau! Será que a crise dos Estados Unidos já faz o júri se identificar com uma sociedade de desigualdades alarmantes? Apesar de bom filme, não vejo outra resposta mais plausível. Fique milionária ou não.


http://www.jornalacidade.com.br/noticias/77964/uma-historia-de-amor-em-carne-viva.html

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