quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

De um brasileiro para um egipciano - sociedade "ultra moderna"

Conversei hoje com um egipciano muçulmano meia idade que vive em Paris há décadas. Para nós brasileiros (que num espaço de mil quilômetros quadrados não encontramos um estrangeiro sequer) chega a ser raro topar com um tipo desses. Por isso mesmo, nada mais óbvio de que eu tenha enchido o homem de perguntas sobre a realidade do Egito.
Depois de tudo respondido, recebi o troco! O rapaz tinha na garganta uma pergunta que não queria calar. Ele teria conversado com um brasileiro e disse ter ficado intrigado com algo na relação conjugal dos brazucas. Quando a conversa toma esses rumos já começo a me arrepender de fazer interrogatórios do gênero.
Sem mesmo me dar conta de que era a vez do homem falar, “É verdade que no Brasil quem sustenta a família são as mulheres e os homens ficam em casa de avental cuidando dos serviços domésticos e das crianças?”. Argh!..
Disse-lhe que, cada vez mais, as brasileiras se integram ao mercado de trabalho, patati patatá, e que há casais que até prefiram essa “inversão de papéis”.
O egipciano ficou inconformado, boquiaberto, com mais mil questionamentos. “Onde já se viu!? Mulher minha não trabalha. Quem tem de cuidar da casa e dos filhos são as mulheres, oras”.
Lógico que fiz de conta que tudo bem, mas também disse que discoradava dele, apesar de respeitar esse ponto de vista (da maioria dos muçulmanos, mesmo os que vivem em Paris).
Em suma, soube que ele estaria interessado por uma conterrânea canarinha. Não fui sutil e avisei: mulher brasileira trabalha mesmo!

O que pode parecer o fim do mundo para uns é o princípio para outros.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Do tempo do cavaquinho


Desde a época do cavaquinho o samba já salvava. Eu não tinha consciência disso, mas já era encaminhada para a boa música e era feliz de ouvi-la desde cedo.

Em meados da década de 80, reuníamos em casa quase todos os finais de semana a família e alguns amigos para lá de sambistas. Entre eles, Armandinho e Edilson (in memorian). O primeiro dava show com qualquer instrumento de corda que lhe caísse nas mãos e o segundo entoava canções de samba que ficaram na minha memória. Quando começavam com Demônios da Garoa, por exemplo, não havia quem ficasse sentado.

Na época, eu não entendia direito o poder do bom samba. Assim mesmo, fui fisgada pelo cavaquinho. "Afinal, um instrumento pequeno deveria ser para crianças", pensava a minha cabeça ingênua. Tentei aprender a tocar o tal "violão infantil", flauta, piano, órgão, teclado. Como valeu o incentivo dos meus pais, mas como não levo jeito para tocar instrumentos, infelizmente.

Em todo caso, continuo sendo salva e ganhando o dia quando um bom samba toca nas rádios, mesmo nas francesas.

Foto: peço licença ao meu querido Pedro por expô-lo aí em cima, mas é desde cedo que se começa. Uma doçura de foto é de se compartilhar. Como o bom samba que me ensinaram.

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Para completar a terça-feira de um carnaval sem samba, ganhei um presente digno: um cd e dvd da Mat'nália. E só o samba salva, já diria meu bom amigo Bona.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Carnaval (!?) na Sorbonne











Hoje à tarde um grupo se apresentou na praça da Sorbonne à la Olodum e Timbalada. Foi agradável escutá-los um pouquinho, apesar de terem sido só meia dúzia. O barulho do trânsito se sobrepôs à acústica da praça. Os tambores não ecoaram grande coisa*. Uma peninha. Mesmo assim, valeu o som às vésperas do carnaval francês que é quase nulo.

*Isso do som da percussão é poderoso. Por exemplo, só doente do pé é que não se emociona com a força dos tambores do Olodum. Principalmente quando ele desce alguma ruela do Pelourinho enchendo de som e vibração cada partícula de energia dali.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Outro dia de nevinha

Praça Edgar Quinet

Igreja Notre Dame des Champs
Nevinha vai, nevinha vem e todo mundo tentando parar em pé nas calçadas e ruas escorregadias. Até descobri a técnica de caminhada pinguim/pato. É uma beleza para evitar tombos. Além de ser um caminhar lindo de ser ver.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Flocos de neve!?

Não é mentira!
Enquanto vocês me contam do calor que faz aí no Brasil, caminho sob floquinhos de neve por aqui. Snif.
Daí o povo de Ribeirão me fala "nossa, amo o frio". Então vem levar o dia-a-dia debaixo de temperaturas negativas, vem!
E essa primavera que não chega...
Que flocos de neve o quê. Mais valia um belo sorvete de flocos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Começo, meio, meio, meio e meio...

Carice van Houten em "A Espiã" (2006): nazi só no show


Vimos a lista dos filmes indicados ao oscar 2010. Super malhada (nem gato, nem vaca), ladies and gentlemen.


Não vim para falar dela. Aliás, vim indicar um filme dos que estão lá a não assistir. Com toda sinceridade e respeito aos irmãos Coen, não veja "A Serious Man". O filme não tem uma história que se desenvolva de fato. Ele poderia nunca acabar, não fosse o corte do fim. Apesar da boa fotografia e, lógico, a trilha sonora magnífica dos anos 60. Fora isso, perdi-me no começo e em todos os meios que, de uma hora para a outra, viraram fim.

Depois dessa dose hilária de cinema (o filme é classificado como comédia!), precisei assistir outro para recompensar o vazio cinematográfico que saía-me pelos olhos. Sem muita coragem topei com "A Espiã" ("Zwart boek" - "Livro negro" em holandês). Que boa surpresa ver uma excelente história (baseada em fatos reais). Uma revelação do cinema flamenco com uma atuação genial dos atores. Sucesso geral entre os holandeses descobri depois.

Imperdível assistir à espiã, principalmente quando se comemora os 65 anos da libertação de Auschwitz. "Hier ist keine Warum", companheiro, mas a natureza se encarrega do que não está em equilíbrio. Que bom que tudo isso já se foi. Mesmo assim, vale ouvir todas as boas histórias dessa era para se dar valor ao presente. Vale ouvi-las, mesmo se estiverem marcadas num livro negro.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A dengue nossa de cada dia

Aedes aegypti


Certa vez, em dezembro de 2003, participei de uma festa de fim de ano da faculdade de medicina tropical da Universidade de Liverpool, na Inglaterra. Só estive lá graças a uma amiga que cursava mestrado no local.

Como éramos poucos, tive a chance de conversar com todo mundo (também pudera). Em uma contagem rápida concluí que a maioria dos alunos era de africanos. Desses, ao primeiro contato, diria serem pessoas simples. Mas, aos poucos, descobria-se veterinários, médicos, profissionais de saúde renomados em seus países.

Conversa vai, conversa vem, cada um falava um pouco de sua terra natal. Na minha vez, Ribeirão Preto longíqua, precisei apontar no mapa para assimilarem sobre onde falava. Na parede da sala principal havia um mapa mundial em grandíssimas dimensões (2,5mX2m talvez - meu sonho de consumo). Enquanto eu deslocava meu dedo pelo mapa rumo ao "orgulho de São Paulo e do Brasil" meus interlocutores iam abrindo a boca com cara de espanto. Antes mesmo d'eu ler Ribeirão Preto no mapa (que estava lá com todas as letras, exceto pelo til) lia-se num post-it didático: Aedes aegypti. A assimilação foi instantânea. Tanto para eles quanto para mim...
Em 2003 já estávamos cansados das estatísticas como as divulgadas pela Vigilância Epidemiológica diariamente desde a retomada das chuvas esse ano. E, como se não bastasse, essa semana, minha família também faz parte dos infectados pela dengue. Cansados e doentes numa cidade potência como essa!
Todos nós, população e poder público, somos culpados por essa situação. O povo por não se empenhar a destruir os criadouros. O Executivo, apesar do que faz na nossa cidade contra o Aedes, não investe de fato na Educação a longo prazo para criar novas consciências que se mobilizem a esvaziar o pneu do quintal.